Maravilha de sonho. Eu era pequeno, comprava balas em frente à minha casa, quando assisti a uma cena que ficou na minha memória: o dono do armazém pendurava na parede o pôster do Internacional, bicampeão brasileiro. As pessoas no estabelecimento aplaudiram o gesto. Em meio às palmas, parei diante da foto, admirei-a sem pressa. Um timaço: Manga, Figueroa e Falcão. Mas para mim nenhuma estrela brilhava mais que Dario, o Dadá Maravilha.
Quando Dadá Maravilha saía do túnel, o Beira-Rio eu já imaginava o goleiro adversário buscando a bola no fundo das redes. Ele tinha um jeitão de anti-herói sendo herói de milhares de torcedores. Pudera, era o rei do marketing pessoal. Nunca dizia “eu”, sempre se referia a si mesmo na terceira pessoa. Talvez fosse o único brasileiro a poder fazer isso sem cair no ridículo. Dadá prometia gols, a galera lotava o estádio para vê-lo pagar as promessas. Cumpriu a maioria. Fez mais: batizou os seus gols de nomes como Beija-flor e Mata-mengão.
Certa vez, defendendo o Atlético Mineiro, prometeu o gol Holocausto contra o arquiinimigo Cruzeiro. E, como promessa é dívida, Dario fez um gol sem ângulo da linha de fundo. O Mineirão veio abaixo em preto e branco. Também foi o inventor de coreografias para festejar o doce balançar das redes. Fazer gols para ele não era problema, era diversão. E nessa brincadeira foi por três vezes o artilheiro do Brasileirão.
Dadá Maravilha é o mais famoso filósofo da bola no período pré-socrático. Bem antes de o doutor Sócrates usar o calcanhar e frases de efeito, ele já afirmava que para toda problemática existia uma solucionática. Vá lá, o português foi para o beleléu, mas o que vale é o lado folclórico. Eram essas frases aparentemente ingênuas que o tornaram um imortal no anedotário popular. Não dá para esquecer pérolas como “com Dadá em campo, o placar não fica em branco” ou a conclusiva “somente três coisas param no ar: beija-flor, helicóptero e Dadá Maravilha”.
E, quando o acusavam de não ter intimidade com a gorduchinha, retrucava, moleque: “O Dadá se preocupou tanto em fazer gols que não teve tempo para aprender a jogar futebol”. A burocracia passava longe das suas palavras e dos seus pés. Dario era meio Oscarito, meio Pelé: maravilhoso sempre. Atualmente, o mestre do cabeceio ensina as manhas do esporte bretão às divisões de base do Atlético Mineiro, à cata, talvez, de um substituto à altura na grande área. Ele não fez fortuna, mas, ao contrário dos seus marcadores, não passa trabalho.
Naquele dia, a tarde foi de Beira-Rio lotado, sinal-da-cruz ao entrar em campo, cabeceio indefensável, delírio da torcida: eu era o Dadá Maravilha. Mas, quando acabou o jogo no campinho de terra, restaram apenas a camisa vermelha com o número 9 caprichosamente costurado às costas pela tia Bina e um punhado de balas num embrulho. Obrigado, Dadá, por essa maravilha de sonho.