




Certamente você já ouviu falar da moqueca capixaba e das praias de Guarapari. E da região serrana do Espírito Santo? Esse lugar belíssimo ainda não foi descoberto pelo resto do Brasil. Fica a apenas 40 minutos de Vitória, mas com um clima bem diferente, que mais lembra o da Serra Gaúcha. É comum a temperatura estar acima dos 30°C na capital e a metade lá no alto. Dá para pegar um bronzeado nas praias de Vitória ou Guarapari durante o dia e aproveitar o friozinho regado a vinho à noite. Percorremos a BR-262 em direção a esse pedaço surpreendente do país. No caminho, hortênsias, esportes radicais, descendentes europeus e comida de primeira.
Na saída de Vitória num sábado às 9 da manhã. O sol dava mostras de que o dia será perfeito para renovar o bronzeado. A suspeita se confirma quando passamos pela orla marítima e vemos muita gente a caminho do mar para um mergulho refrescante. Apesar da imagem convidativa, o nosso destino é outro. Porém, não menos interessante. As cidades de Domingos Martins e Venda Nova do Imigrante.
Domingos Martins, 10 da manhã
Na entrada de Domingos Martins o primeiro sinal de que estamos chegando a uma verdadeira embaixada alemã no Brasil: o pórtico em estilo enxaimel. Aos poucos a cidade vai revelando as suas raízes européias. A colonização germânica começou aqui em 1847, com imigrantes originários das regiões do Hunsrück e Pomerânia. Os sinais são visíveis. É comum ver gente de olhos azuis e cabelos loiros passando pra lá e pra cá. Também não é difícil encontrar alguém que fale uma ou outra palavra, ou, até mesmo, quem se expresse fluentemente no idioma de Michael Schummacher.
Na fila do banco, os aposentados que vieram do distrito de Melgaço não falam outra coisa que não o pomerano, um dialeto da antiga Alemanha. Muitos se cotizam para contratar uma tradutora na hora de se comunicarem com os “brasileiros”. Aliás, às quartas-feiras, o culto luterano é celebrado em alemão. A tradição se manteve, apesar da repressão recebida durante a 2a Guerra Mundial quando não podiam se expressar na sua língua natal. A nota triste é a arquitetura. Restam poucos prédios em estilo alemão como os da prefeitura, da igreja luterana ou do Hotel Imperador. “Houve uma época em que era feio ser alemão, daí as marcas foram sendo apagadas”, afirma Joel Guilherme Velten, um cônsul informal da cultura alemã na cidade.
A população gosta de contar histórias e adora receber os visitantes. O contato inicial – como em qualquer início – tem uma pitada da famosa fleuma germânica, porém logo se soltam em risos bem brasileiros. No Agrotur Center, uma espécie de shopping de lazer, o Grupo Cultural Folclórico Bergfreunde (Amigo da Montanha, em alemão) se apresenta para uma platéia de turistas atentos. Ao fim de cada número os aplausos pipocam. Segundo Werner Bruske, integrante do grupo, eles já fizeram espetáculos no sul do Brasil, Estados Unidos e na própria terra dos antepassados, a Alemanha. O cotidiano passa sem sobressaltos entre uma polca e outra.
Se a vida passa devagar no centro da cidadezinha, o mesmo não acontece a alguns quilômetros dali. As corredeiras do rio Jucu recebem visitantes de todas idades, que pagam para terem os nervos testados num passeio de emoções radicais. Falta coragem para eu fazer o mesmo. Porém, uma coisa mexeu com os meus brios. Um grupo de turistas volta do rafting. Entre os adultos, Letízia Trannin, uma simpática carioquinha de onze anos. Ainda com os lábios roxos de frio, ela conta maravilhas da aventura. Se ela foi, eu, um marmanjo, tenho de ir.
Os borrachudos são uma barreira a ser vencida. Eles fazem a festa enquanto são passados os procedimentos segurança – o meu reino por um repelente! Todos estão sérios. Para aliviar a tensão, o instrutor JB explica que a sigla do seu nome significa “gente boa”. Subverteu o português, mas não perdeu a piada. No meu bote vai uma família inteira de Barueri. Olinto Costa trouxe os filhos Fábio e Daniel para radicalizar no Jucu. Só não conseguiu convencer a esposa Elizabeth, que prefere ficar filmando a aventura familiar.
A água está geladíssima. Já na primeira descida o banho é inevitável. Logo esqueço o frio. Pudera, a adrenalina vai a mil por hora e os remos não param um instante. “Rema, rema”, grita JB aos afoitos navegantes. Quando a queda d’água é muito forte e não há muito a fazer apenas avisa: “reza, reza”. Todos se divertem. No final dos 8 quilômetros de percurso, um piquenique preparado pela equipe do rafting reanima os exaustos remadores.
A próxima parada é uma ponte na ferrovia que liga Vitória a Cachoeiro do Itapemirim. É hora do rapel. Tudo é grande por ali. Para chegar atravessamos um túnel de 250 metros. São simplesmente 90 metros de descida em negativo. Ou, num linguajar leigo, sem qualquer apoio para os pés. Achei que era emoção demais. Resolvi dar um refresco para o meu anjo da guarda e declinei do convite. Lá embaixo corre o braço norte do nosso já conhecido rio Jucu. A estrada de ferro está em plena atividade. Tanto que enquanto estávamos ali passou um trem limpa-trilho em direção a capital. Mas não se preocupe nunca ninguém foi corrido pelo trem como acontece nos desenhos animados. Domingos Martins mostra que é uma alemãzinha pra lá de radical.
Venda Nova do Imigrante, 8 da manhã
Já na chegada a Venda Nova do Imigrante o frio apertou. Pudera! A temperatura média anual é de 18°C. O que justifica as hortênsias, um ícone dos lugares frios, no meio da estrada. Esse clima ameno atraiu os imigrantes italianos que chegaram a região por volta de 1890. É corriqueiro encontrar sobrenomes como Busato, Peterle ou Carnielli. Os descendentes de italianos sempre produziram tudo o que consumiam. E não é que isso virou atração turística em Venda Nova do Imigrante? A coisa começou por acaso. Os turistas de passagem começaram a ir às propriedades rurais para comprar produtos e ver como eram feitos. A atividade ganhou contornos profissionais. Hoje são mais de vinte de propriedades que se dedicam ao agroturismo. Cada uma com sua especialidade, o que deixa mais interessante o tour pelas diversas fazendas. Os visitantes vêm em caravanas organizadas pelos hotéis da região ou em seus próprios carros (mineiros em sua maioria).
O casal paulista Sabrina e Eduardo Rizzo veio passar uma lua-de-mel diferente e adorou. Repete a experiência pela terceira vez, sempre trazendo gente nova para vivenciar o cotidiano na fazenda. Dessa vez vieram com três pessoas da família. “É um resgate de onde tudo começou”, afirma Sabrina. Todos fazem coro. É possível ver o café da colheita à xícara. Henrique, 12 anos, não desgruda o olhar da peneira por onde passa a farinha do fubá, uma das especialidades da fazenda da família Carnielli.
Não muito longe dali, a família Lorenção se desdobra para receber os turistas. O lugar se dedica à produção de tomate seco e do socol, uma espécie de presunto que curte por até quatro meses. Muitos descendentes de italianos vêm das grandes cidades para conhecer um pouco daquilo que avós sempre contavam sobre os hábitos dos colonos. Isso quando não são os próprios nonnos não revivem o passado. Grupos de estudantes, especialmente universitários de agronomia, dão as caras no sítio de 36 hectares.
Um ônibus cheio de turistas está saindo do Sítio Família Busato. Ninguém volta de mãos vazias. Um leva uma garrafa de cachaça, outro um pote de iogurte artesanal. Lúcio, filho do proprietário, já se prepara para receber outro grupo. Na sala ao lado, a mãe Iria trabalha duro na feitura de novos produtos enquanto o irmão, Carlos, cuida do alambique. É assim a vida dos Busato desde que começaram com agroturismo em 1991. Os queijos feitos na propriedade são sucesso absoluto. Mas se você quiser comprar terá de ficar numa fila de espera de três meses. Entre os clientes, gente de Salvador, São Paulo, Fortaleza e até um suíço que mora no sul da Bahia.
Hora do almoço. A Fazenda Saúde é o destino certo dos turistas. O lugar nasceu para ser um pesque e pague (que ainda existe), mas ficou famoso pelo almoço que mescla culinária italiana e mineira. Tudo comandado pela matriarca Marta Franceschetto, onze filhos, olhos muito claros e um leve sotaque italiano. As mesas são antigas máquinas de costura. Para acompanhar o seu almoço, não deixe de provar o vinho de jabuticaba. Na sobremesa nada mais natural que doces de carambola, mamão com coco e pé-de-moleque. O lugar é muito agradável. É comum ver famílias inteiras sentadas ao redor do lago enquanto assistem ao passeio majestoso dos pavões de estimação da fazenda. Uma bela imagem para levar da Serra Capixaba.
A estrela da rodovia
Na altura do quilômetro 90, está a grande estrela da BR 262, a Pedra Azul. A formação rochosa de 1822 metros de altura ganhou esse nome porque conforme a incidência do sol, ela ganha um tom azulado. Porém, na verdade, a Pedra Azul é multicor. Cinza logo cedo, verde no meio da manhã, azul ao meio-dia e vermelha no fim do dia. Ela fica dentro de um parque estadual. Por isso, se você quiser vê-la mais de perto é necessário agendar a visita (tel. 3248-1156, das 8 às 17h30). Junto a ela é possível fazer caminhada de 3 horas pelas trilhas do lagarto e das piscinas naturais. Sem dúvida, ela é a estrela da rodovia.
O padre pé-de-vento
Pode anotar. Quando chegar a Venda Nova do Imigrante você vai ouvir: já conheceu o Padre Cleto? Fomos. A princípio parecia uma figura frágil dentro do casaco de lã e boina cobrindo a cabeça. Logo se transforma numa metralhadora giratória que não pára de falar. “Será que não tem um lugarzinho para mim na revista de vocês?”. O velho padre Cleto Caliman é um pé-de-vento. Diz que já zanzou pela França, Espanha, Portugal, Alemanha e pela sua bella Itália. A próxima parada é o Chile. Faz questão de demonstrar que é um poliglota de carteirinha. Desanda a falar em italiano, francês e espanhol. Só não teve jeito de aprender inglês. “E também falo o português com indiscreta infâmia”. Os seus 89 anos o ensinaram a rir de si mesmo. Além de pé-de-vento, o religioso tem fama de festeiro. A Festa da Polenta, o maior evento da cidade, saiu de sua cabeça branquinha. Flamenguista roxo, no período em que serviu numa arquidiocese do Rio de Janeiro, sempre dava um jeitinho de ir ao Maracanã para ver a equipe rubro-negra jogar. Afirma que viu o milésimo gol do rei Pelé.
Natureza privilegiada, bons ventos, alto-astral. Se o Brasil tem uma capital dos esportes ao ar livre, ela fica na Ilha de Santa Catarina.
Alessio Heindenreich, 78 anos, nunca ouviu falar em wakeboard, parapente, kitesurf ou trekking. O seu mundo ainda é povoado de serenatas, festas animadas pela Sociedade Musical Nossa Senhora da Lapa e histórias fantásticas dos pescadores do Ribeirão da Ilha, onde mora, no sul de Florianópolis. O que o Seu Alessio não sabe é que a Ilha de Santa Catarina está se transformando num reduto para a prática de esportes de aventura, uma espécie de Nova Zelândia à brasileira. Isso pode ser creditado à rara combinação natural encontrada ali. Poucos locais no país reúnem montanhas, lagoas (Conceição e Peri), dunas, manguezais, ventos constantes, rios e as águas claras do Oceano Atlântico por todos os lados. Não é necessário fazer grandes deslocamentos para praticar a modalidade radical escolhida. A meia hora do Centro dá para surfar as ondas fortes da Joaquina e, em 40 minutos de lancha, é possível mergulhar na Ilha do Arvoredo. Soma-se a boa infra-estrutura da capital. E o resultado é uma qualidade de vida ímpar entre as metrópoles brasileiras. A qualquer hora do dia é comum ver carros carregados de equipamentos esportivos a caminho da lagoa, do mar ou da montanha. Esse é o espírito de Floripa.
Muita gente chega de férias para aproveitar as delícias de Florianópolis e não volta para casa. O piloto de parapente Aloísio Sarmento, o Paulista, 46 anos veio passear e já está há três décadas em terras catarinenses. Fez de tudo um pouco: trabalhou com fotografia, tosou pêlos de cães em pet shop até iniciar-se no esporte em 1993. Agora está realizando o sonho de transformar a praia Mole em seu escritório, onde voa, dá aulas e faz passeios de parapente com os turistas. “Aqui é um dos melhores lugares no Brasil para voar, sempre rola um ventinho”, garante o piloto, com a autoridade de quem realizou aproximadamente 2 500 vôos. Saltar de parapente da rampa do morro do Gravatá é garantia de um vista inesquecível da praia Mole. Os ventos constantes do leste, sudeste ou nordeste sempre dando um forcinha. “Quando não tem um, tem o outro”, brinca Paulista.
Mar Lagoa, montanhas, dunas, floresta. Tem tudo aqui
A vocação de Florianópolis para os esportes de aventura é tamanha que na lagoa da Conceição o vaivém de praticantes não pára nunca. Ali é possível praticar kitesurf, wakeboard e winsurf – só para não fazer uma lista muito extensa. E se você olhar para o alto ainda vai ver os parapentes aproveitando as térmicas. Apesar disso, não existe congestionamento de esportistas no local. A explicação é simples. As condições climáticas ideais para um esporte pode ser prejudicial para outro. “O vento é ruim porque ondula a água e dificulta as manobras”, ensina o wakeboardista Artur Assis Pereira, 21 anos. O outono é a época perfeita para o wakeboard na ilha. A turma do kite espera pela primavera quando sopram os ventos constantes e moderados que impulsionam a pipa. O esporte que começou com a prancha do wakeboard e a vela do parapente é o que mais cresce em número de adeptos em Floripa, especialmente entre as mulheres. “É porque não exige tanto esforço como o wind”, afirma a fisioterapeuta e kitesurfista Renata Berretta, de 25 anos. Segue uma tendência mundial. Até Robby Naish, lenda viva do wind, experimentou, gostou e se converteu num dos seus maiores divulgadores.
Por outro lado, o windsurf precisa de muito vento para empurrar a vela e ganhar velocidade para as manobras mais radicais. Isso vai acontecer na primavera e no verão, conforme Max Fernandes Neves, velejador e instrutor da Windcenter, 20 anos, metade dos quais dedicados ao esporte. A Ilha de Santa Catarina está entre os melhores lugares no Brasil para a prática do wind e do kitesurf, concorre vento a vento com Jericoacoara, Natal, Fortaleza e a lagoa de Ibiraquera, no sul do estado. O curioso é que todo mundo na Ilha seguia pelos ventos. Quando há uma faixa de nuvens no morro Cambirela é porque vai entrar o vento sul garantem os pescadores. Traduzindo para a língua dos esportistas: boas condições para o windsurf e regulares para o mergulho na Ilha do Arvoredo. Mesmo com tanta tecnologia envolvida nos esportes atuais é nos ensinamentos de gerações que os esportistas ainda se apóiam. O mais importante é que em Floripa sempre faz tempo bom para os radicais liberarem a adrenalina.
Na Joaquina ninguém perde o programa. Se as ondas estiverem fracas, basta subir as dunas e deslizar a 60km por hora
Mas se não rola nenhum ventinho? A saída é colocar uma prancha de sandboard debaixo do braço e seguir para a Joaquina. Lá, segundo a lenda, o esporte inventado em 1986. Quando o mar estava sem ondas, os surfistas desciam as dunas com pedaços de pranchas quebradas, fórmicas e até papelão. Portanto é um esporte tipicamente manezinho da ilha. Agora, a prancha é feita de fibra de carbono. A relação com o snowboard é muito próxima. “A gente adaptou as manobras para o sand”, afirma o catarinense Eduardo Mesquita, o Duda, 30 anos, primeiro atleta a realizar o front flip (mortal para frente) no sandboard. No fim da tarde, quando as areias esfriam e a prancha desliza mais facilmente, as dunas da Joaquina estão entre as melhores do mundo a prática do esporte. Portanto, não é de estranhar que o tricampeão mundial da modalidade seja Digiácomo Dias, 25 anos, paulista radicado em Floripa.
O trekking é um esporte de aventura que encontra terreno fértil em Florianópolis. Trilhas como a do Naufragados ou da Feiticeira, caminhos corriqueiros dos pescadores ao longo dos séculos, recebem gente ávida para explorar os encantos da Ilha da Magia. Outro fator é o município possuir uma área de preservação ambiental permanente equivalente a 42 porcento do seu território. Não é raro encontrar pelo caminho riachos, lagartos e macacos-prego nas encostas de morro cobertas pela Mata Atlântica. Os amigos Adam Wood, Dean Clark, Adam Landers e Benjamin Ryan, o Bennie vieram de Londres de férias e aproveitaram para conhecer a trilha da Lagoinha do Leste.
Trilhas até os cantos mais escondidos da ilha duram dez horas. E estamos numa capital
Existem dois caminhos, com diferentes graus de dificuldade, para chegar até lá, ambos saindo de Pântano do Sul. No percurso mais difícil (e por isso menos freqüentado), contorna-se o Morro do Pantano. São 11 quilômetros de subidas impiedosas e descidas acentuadas que exigem um preparo físico apurado. A trilha de dez horas é feita por dentro do Parque Municipal da Lagoinha do Leste. É recomendável levar água mineral e lanche. No trajeto, córregos, matas fechadas, costões à beira mar, curiosas formações de pedra e a gruta do Portal da Felicidade, no morro da Coroa. Além da vista privilegiada para as praias de Pantano do Sul, Naufragados e as ilhas Três Irmãs. “A trilha é sensacional, apesar de difícil”, diz Adam Landers, que esteve na Guerra do Iraque a serviço do Exército da Rainha da Inglaterra. “Merece ser mais divulgada”, garante Dean Clark. A descida da Ponta do Açúcar até a praia os joelhos sofrem muito com a inclinação do terreno. Dá vontade de cantar aquela velha canção de Tom: “É pau, é pedra, é o fim do caminho.” A recompensa por tanto esforço é um mergulho nas águas calmas da lagoinha do Leste. Mas é apenas pausa. O ponto final é o mesmo de partida, em Pantano do Sul, a pouco mais dois quilômetros. O jeito é tomar fôlego e seguir pela trilha (mais curta e mais fácil) até lá.
Mesmo distante da terra firme, Florianópolis é perfeita para as atividades de ação. A cerca de quarenta minutos de lancha da costa está a Reserva Biológica do Arvoredo, um dos melhores pontos de mergulho do país, com suas reentrâncias, águas claras e muita fauna e flora marinhas. São comuns as embarcações saírem cedinho e ancorarem no Saco do Engenho. Ali a visibilidade média é de dez metros, conforme as condições climáticas. “A profundidade varia de três a oito metros”, informa o instrutor de mergulho Omar Gonzalvez, que trocou Lanus, na Grande Buenos Aires, por Floripa. “Um pouco mais adiante chega a 23 metros”, completa. Isso facilita a vida tanto dos marinheiros de primeiro viagem como dos expertos em submersão com cilindros. O argentino Pablo Salonio trouxe os filhos Santiago e Augusto, respectivamente de 11 e 14 anos, para fazerem o batismo (primeiro mergulho) nas águas calmas e cristalinas do Arvoredo. “É uma grande experiência de vida”, acredita o pai. Por outro lado, o oficial da Marinha e mergulhador há três décadas Mario Augusto, 40 anos, também gosta de explorar o mundo subaquatico do local. Ele e a esposa Vanise Martines, 39 anos, voltavam das férias em Porto Alegre e programaram mergulhos até chegarem ao Rio de Janeiro onde moram. É claro, incluíram o Arvoredo no roteiro.
A proposta do cicloturismo é praticar um esporte de aventura longe da costa da capital catarinense. Mais que isso. Seguir de bike por trilhas e estradas de chão para conhecer os recantos naturais e culturais de uma Florianópolis que não figura nos roteiros turísticos tradicionais. Portanto, desconhecida para a maioria dos milhares de turistas que nela aportam todos anos. A saída e chegada do grupo é na praia dos Ingleses, no norte da Ilha de Santa Catarina, num trajeto de 28 quilômetros. Aos poucos o cheiro de maresia cede lugar ao de mato. A primeira prova é na subida do morro do Muquém. A vista para praia do Moçambique, Ilha das Aranhas e parte da lagoa da Conceição indicam que o caminho é promissor em paisagens. Vencida esta etapa é hora de pedalar (ou pelo menos tentar) no mato. A quantidade de galhos, pedregulhos e raízes soltas no solo dificultam qualquer ação. O jeito é descer e empurrar a bicicleta.
O surfe foi o começou de tudo em 1986. De lá para cá, a vocação de Floripa para os esportes não pára de crescer
Logo se chega ao povoado de Muquém, no bairro de São João do Rio Vermelho. A única semelhança com o restante da Ilha é o sotaque. Da porta da casa centenária, o seu Modesto, 83 anos, morador do lugar, acena para a caravana de bikers. A sua diversão é contar piadas inocentes, adivinhações e histórias da cidade aos passantes. “Quando a mulher tira a roupa mais rápido?”, questiona ele. “Quando chove, rapaz, daí tira rapidinho a roupa do varal”, responde satisfeito e cai na risada. A prosa com o seu Modesto é substituída pela estrada de chão que leva ao bairro da Vargem Grande. É uma Floripa com modos interioranos, cachorro latindo no portão e carroças trafegando nas ruas. É difícil imaginar que é aquela capital de meio de milhão de habitantes em constante ebulição na alta temporada. A cachoeira da Vargem Grande é o ponto de refrescância do trajeto. Antigamente o rio de mesmo nome fornecia água para a cidade, com o desmatamento nas suas margens foi perdendo volume d’água. A nota triste é o lixo acumulado junto ao curso d’água.
É difícil pensar em Florianópolis e não associar ao surf. Pudera, não faltam picos (bons locais) para a sua prática. Os mais destacados são a Joaquina, Galheta e Lagoinha do Leste, ensina o instrutor de surf e surfista Fabrício Machado, de 30 anos. A cidade é um dos poucos lugares que tem vento de todos os quadrantes. O surf não depende essencialmente do vento, mas da ondulação, o famoso swell. A melhor ondulação para a Ilha de Santa Catarina é de leste, exatamente onde se situam a praias citadas. Não é por acaso que os irmão surfistas Teco e Neco Padaratz ganharam fama internacional. Tinham no quintal de casa as melhores ondas do país. Até o “local” Gustavo Kuerten, tenista tricampeão de Roland Garros, arrisca umas manobras sobre a prancha.
Desde os anos 70, a galera local já se reunia para sessões de surf na Joaquina. Entretanto, em setembro de 1986, quando a praia sediou uma das etapas do circuito mundial de surf profissional, teve o seu nome catapultado para a fama. De uma hora para outra, os locais tiveram de dividir as ondas perfeitas de até 10 pés da Joaca com os forasteiros. Gerando certa rivalidade entre os surfistas da casa e os de fora. “O surf tem regras e muitas vezes o povo de fora não respeitava”, desconversa Fabrício. Alheios a tudo isso os irmãos gêmeos Vítor e Lucas Cohen, 12 anos, vieram de Belém do Pará com a idéia fixa de surfar na meca do esporte no país. A melhor época para surfar em Floripa é no inverno. Portanto, prepare a roupa de neoprene pois a água é geladíssima, perto dos oito graus centígrados.
Manezinho radical
Eduardo Mesquita, o Duda, 30 anos, sandboarder
Quem observa os movimentos tranqüilos e a voz baixa fortemente marcada pelo sotaque ilhéu, não consegue imaginar o Duda arrepiando nas dunas da Joaquina. Começou no surf, passou pelo skate, mas a ficha caiu mesmo quando assistiu um vídeo de sandboard. Ele entrou para a história do esporte ao ser o primeiro atleta a conseguir fazer o front flip, um salto mortal para frente (depois também conseguiria fazer para trás). “Sou um board rider”, define-se. No linguajar dos leigos, significa que topa qualquer esporte com prancha. Pode ser kite, surf, skate, wind, snow e garante que só não pratica o wake devido ao alto custo. Bebe de todas as fontes. “Às vezes nem sei de qual esporte eu sou”, interroga a si mesmo. “Ah, sim sou do sandboard”, diverte-se Duda.
A nova onda do rafting
Sérgio Machado, 37 anos, empresário
Cansado de colocar o bote inflável no carro e seguir até a cidade vizinha de Santo Amaro da Imperatriz, onde pratica-se rafting no rio Cubatão, o empresário Sérgio Machado, 37 anos, quebrou a cabeça até achar uma solução. Resolveu adaptar os equipamentos para as ondas do mar, o bote, por exemplo, é uma espécie de catamarã, com bóias no lugar das quilhas dos botes de rafting. Pronto estava criado o surf rafting, primo marítimo do tradicional. “Percebi que a gente tinha um imenso ‘rio salgado’ bem na nossa frente”, explica Machado, dono da operadora Adrenailha. A nova modalidade – que mescla os dois esportes que lhe cedem o nome – consiste em remar junto à arrebentação e descer surfando as ondas. Agora todo dia é dia de rafting, sem sair da praia dos Ingleses. É a criatividade a serviço dos esportes de ação.